Especial Euro 2004
Psicotapa entrevista Vítor Baía em exclusivo para o Psicotapa
Psicotapa: Depois da conquista da Liga dos Campeões, considera-se ainda o melhor guarda-redes português?
Vítor Baía: Não, penso que não seria humilde da minha parte dizer isso. Eu na verdade já era o melhor guarda-redes português antes da conquista da Liga dos Campeões. Mas não me considero o melhor guarda-redes de sempre. Houve ao longo da história outros quase tão bons como eu.
P: Não tem mágoa por não ter sido chamado por Scolari para o Euro 2004?
VB: Claro que não. Penso que, se continuar a trabalhar assim, mais cedo ou mais tarde o mister Scolari reconhecerá o meu empenho e vai dar-me uma oportunidade. Ir ao Euro 2004 é um objectivo que eu tenho.
P: Pois, mas agora é capaz de ser um bocado tarde...
VB: Não vejo porquê. A esperança é a última a morrer e o mister Scolari nunca disse que não me ia chamar, por isso, resta-me continuar a trabalhar e julgo que a minha oportunidade vai surgir.
P: Vítor, que balanço faz da sua carreira como futebolista?
VB: Não sei. Eu tenho contrato é com o FC Porto por mais dois anos e é para cumprir. No contrato não vem lá nada sobre isso de fazer balanço.
P: Mas, agora em plena recta final da sua carreira, já é possível fazer uma retrospectiva...
VB: Recta final? Que ideia! Deve estar a brincar comigo.
P: Quer dizer que, quase a fazer 35 anos, ainda não vislumbra o dia de pendurar as luvas?
VB: Disparate! Eu quero jogar pelo menos até aos 52. Sinto-me em forma para isso. Além do mais, quero ir aos Mundiais de 2006 e 2010 e aos Euros 2008 e 2012. É uma meta que estabeleci para mim mesmo.
P: Mas qual é que foi para si até hoje o ponto mais alto do seu trajecto como guarda-redes?
VB: Foi um amigável que o FC Porto fez uma vez numa digressão à América do Sul, apesar de termos perdido com dois frangos meus. Jogámos em La Paz, na Bolívia, contra uma equipa cujo nome já não me lembro, a uma altitude de 2500 metros.
P: O que sente um guarda-redes no momento do penalti?
VB: Bem, muito honestamente, já não me lembro. Sei que quando estava no Barcelona assinalaram uns quantos contra nós, mas desde que regressei ao Porto... Mas acho que havia uma certa angústia em tentar adivinhar e saltar para o lado contrário ao da bola.
P: Saltar para o lado contrário? Sempre pensei que os guarda-redes tentassem saltar para o lado em que a bola era chutada, para tentar defendê-la.
VB: Isso é o que toda a gente pensa, mas é falso. A ideia é deixar a baliza o mais aberta possível para que quem bata o penalti sinta uma obrigação ainda maior de marcar, fique nervoso e chute para fora. Além do mais, já viu a força com que os jogadores chutam uma grande penalidade? Se eu tentasse defender uma bola daquelas, era capaz de ficar todo despenteado e as minhas fãs passavam-se.
P: Como é que lida com o assédio das fãs?
VB: Acho que não é a melhor altura para falar disso. Como eu já disse, ainda tenho dois anos de contrato e espero cumpri-los até ao último dia. Mas o meu representante ainda não me disse nada sobre qualquer proposta do Assédio nem de qualquer outro clube.
P: Voltando um pouco atrás, o Vítor saiu em meados da década de 90 para o Barcelona, numa altura em que era considerado um dos melhores guarda-redes da Europa. O que correu mal?
VB: Nada. Correu tudo bem. Acho que estive bem no geral e até hoje não entendo por que correram comigo.
P: Mas admite que teve exibições desastrosas?
VB: Errar é humano, mas os animais também erram. Acho que as pessoas na Catalunha é que são um pouco intolerantes com os frangos dos outros.
P: Mas você frangava semana sim, semana sim.
VB: De propósito. Era tudo pensado. A minha ideia era habituar mais os adeptos aos frangos, porque o guarda-redes que lá estava antes, o Zubizarreta, não teve esse cuidado e deixou-os mal habituados. Eu tinha até a ideia de abrir uma rede de churrasqueiras em Barcelona, com o Figo e o Fernando Couto, mas parece que os catalães não gostam mesmo de frangos e a ideia ficou em águas de bacalhau. Podíamos ter aproveitado isso para abrir uma loja de pastéis de bacalhau, mas a ideia não me ocorreu na altura.
P: Qual é o sabor de mamar um frango?
VB: É uma coisa inexplicável. Única. A bola parece que ganha vida e dança connosco, numa espécie de bailado maravilhoso. O público delicia-se e explode num êxtase de assobios e gargalhadas. É muito bonito isso.
P: Mas então quer dizer que gosta?
VB: Ao princípio custa um pouco, mas depois que uma pessoa se habitua, não há melhor que um belo frango.
P: Prefere-os com ou sem piri-piri?
VB: Tanto faz. O importante é que venham sem espinhas.
P: Como o pastel de bacalhau?
VB: Isso.
P: Os seus admiradores e as pessoas que têm seguido mais de perto a sua carreira estão já há anos a sofrer com uma dúvida: por que é que não corta essa gadelha? Acha que isso lhe fica bem assim, acha?
VB: Não sei. Eu também acho que fica um pouco ridículo, para não falar nestes calçõezinhos apertados que eu tenho usado este ano e que até são um bocado incómodos. Faço isto pelas miúdas. Elas gostam.
P: Acha que as mulheres gostam de um visual gay nos jogadores?
VB: Claro. Elas não gostam do Beckham, com aqueles totós e rabinhos de cavalo? No Brasil, eram doidas pelo Kaká, que tem menos ar de macho que algumas mulheres que eu conheço. Além disso, elas não adoram quando os jogadores se roçam e empoleiram uns nos outros quando marcam golos? É natural que assim seja. Nós homens também apreciamos lésbicas. É justo.
P: Mas não é um pouco embaraçoso entrar em campo com um ar efeminado?
VB: Nem por isso. Aliás, não vejo qual é o mal, desde que isso não transponha o visual e continuemos a ser machos no nosso íntimo. Se eu o beijasse agora aqui não era isso que iria afectar a minha masculinidade.
P: Não, obrigado.
VB: Você é que sabe. Não me custa nada.
P: Não.
VB: Pronto...