A veia gestora de David Brent é reconhecida internacionalmente
Britânico nomeado director-geral da Sonae
O gestor britânico David Brent foi contratado pela Sonae para o cargo de director-geral. O grupo de Belmiro de Azevedo espera assim beneficiar dos métodos revolucionários do antigo regional manager da série "The Office", que o tornaram internacionalmente famoso.
Na sua apresentação oficial, o inglês fez questão de entrar em grande, tocando uma guitarra e cantando o tema "Colorblind", da extinta banda de que foi líder em tempos, os Foregone Conclusion. Depois disso, em vez de ler um discurso, Brent quebrou o protocolo e ensaiou alguns passos de break-dance.
"Estamos muito contentes com esta aquisição de peso", afirmou Belmiro. "David Brent tem muito a ensinar aos corpos gestores da nossa empresa e não só. Esperamos todos aprender muito com ele, e contagiar-nos um pouco com a sua boa disposição", acrescentou, realçando o célebre sentido de humor de Brent.
O Psicotapa conseguiu uma entrevista exclusiva com David Brent, da qual publicamos aqui uma versão aumentada:
Psicotapa: Quais os argumentos que a Sonae utilizou para o fazer aceitar o convite?
David Brent: Disseram-me que se não aceitasse, matavam a minha mãe [risos]. Estou só a brincar [risos]. A minha mãe já morreu há uns anos. Grande perda pessoal [pausa]. Disseram-me que se não aceitasse, matavam o meu cão. Não, lá estou eu outra vez [risos]. Nem sequer tenho cão. O meu papagaio. Oh, não [risos].
P: Belmiro não utilizou nenhum argumento de peso para o convencer?
DB: Na verdade, não. Quer dizer, ofereceu-me uma pipa de massa [risos]. Não, o dinheiro não é assim tão importante na vida. Não para mim. Há coisas mais aliciantes [pausa]. Portugal, bom tempo, sol a brilhar, pessoas excitantes, mulheres lindas, a possibilidade de encarar um novo desafio, trazendo o meu know-how em gestão continuada e ver como resulta adaptá-lo a um país ipsis quorum diferente...
P: Por falar em know-how, o seu background resume-se à área do comércio e distribuição de papel. Não acha que há pouca relação com o que a Sonae espera agora de si?
DB: Posso ser sincero?
P: Por favor...
DB: Não, não acho. Veja bem, isto não tem a ver com o que se produz, mas como. Não interessa o resultado, mas o processo. Gerir um supermercado ou a redacção de um jornal é absolutamente a mesma coisa. Eu sou um profissional, que vem para vencer. O meu papel é liderar uma equipa que esteja comigo nisto, como uma grande família. Se dermos à Sonae cem ou mil milhões de euros de lucro, não é isso que faz a diferença.
P: Não? O que é então?
DB: Criar um ambiente de felicidade entre os soldados rasos. Eu sou o general, o líder. Tenho um bando de crianças esfomeadas debaixo da minha alçada. Qual a vantagem de as ter a combater desmotivadas? Nenhuma. Se elas vão morrer à fome, pelo menos que seja com orgulho, a desfrutar o combate. Se morrerem baleadas, bem, isso acontece. É a vida.
P: Que novidades pretende implementar nas empresas do grupo?
DB: Várias.
P: Por exemplo?
DB: Por exemplo [pausa], há três coisas que quero implementar [pausa]: competitividade e transparência [pausa]
P: E a terceira?
DB: A terceiraaa... [pausa]. Relações interpessoais optimizadas.
P: Competitividade, transparência e relações interpessoais optimizadas!? Não pode ser um pouco mais específico? Isso parecem conceitos tão abstractos...
DB: Para si. Não para mim. A capacidade de conceptualização é fundamental quid pro vadis para uma boa liderança. Conceptualizar é pensar a empresa. Se não houver quem o faça, as pessoas andam perdidas e não conseguem exprimir o seu talento. Andam frustradas, é um desperdício. Seria como um homem com oito braços a tentar coçar os testículos. Está a ver? Aquelas mãos todas a atrapalharem-se. É preciso um cérebro – eu – para pôr os braços – os funcionários – a coçarem os tomates de forma ordenada. Sem redundâncias. Senão, o homem – a empresa – ainda se magoava. Imagine só...